quarta-feira, 2 de março de 2011

Como começou o desejo de pesquisar o meu tema no mestrado II

Bom, a minha primeira estratégia, para enfrentar meus conflitos com a precarização do meu trabalho, foi não pensar sobre o que me acontecia. Fugir do que a realidade me apresentava. Chegava em casa e queria ver uma novela boba, daquelas que você não precisa pensar muito para entender. Então me anestesiava e ia dormir. Segurava-me nos parcos prazeres que minha parca remuneração podia me oferecer... Mas, essa estratégia não deu conta do meu sofrimento... então passei a segunda.
A segunda estratégia foi pior, foi pensar que o problema não estava na estrutura organizacional do trabalho ao qual eu estava submetida, mas sim em mim mesma, que não me esforçava adequadamente para me adequar as condições do mercado, ou que ainda não tinha encontrada a organização que iria me dar as condições adequadas de trabalho que me fariam sentir feliz. E então, passei a procurar desesperadamente outras oportunidades de emprego. Mas, nunca conseguia ficar numa seleção. Lembrei que na época de estagiária, toda vaga, que eu queria realmente ficar, era minha, eu era aprovada. Então foi que tive um insight, eu não queria realmente ficar naquelas vagas, o avaliador devia perceber isso e então não me aprovava. Principalmente quando vinham com um discurso que às vezes será necessário você ficar após o expediente para terminar uma tarefa, ou que podemos precisar de você no final de semana etc.
Essa segunda estratégia, antes de eu ter meu insight, causou-me muito sofrimento, pois comecei a me sentir fora desse mundo, como se o problema fosse eu, que tinha que pensar tanto sobre a questão do trabalho e querer condições dignas, enquanto a maioria aceita isso. Duvidei também da minha capacidade, que não era boa o suficiente para esses empregos. Quando na realidade após meu insight percebi que eles é que não eram bons o suficiente para mim.
Então cheguei a terceira estratégia, fui buscar nos livros as respostas para minhas angústias, voltei a ler e estudar. E essa foi a melhor estratégia. A partir das leituras que fiz de Dejours, do Wanderley Codo, da Ana Magnólia Mendes, Ricardo Antunes entre outros comecei a compreender melhor esse mundo do trabalho no qual eu estava inserida, via a minha vida, e a do meu pai também, nas linhas desses autores e então me deparei com um desejo imenso de investigar sobre a temática do trabalho. E num primeiro momento o trabalho que eu realizava, o do psicólogo organizacional.
Essa foi a minha melhor estratégia. Minhas leituras me levaram a ver que existiam grandes diferenças entre psicologia organizacioanal  ao longo dos anos no Brasil e mais ainda entre psicologia organizacional e psicologia do trabalho. Ao analisar minha prática percebi que fazia psicologia organizacional, mas ainda presa a uma psicologia organizacional, que os livros me diziam que se fazia no início dos anos 50 a nível de sul e sudeste. Mas que em Fortaleza se encontra fortemente presente, ao menos por onde passei. Percebi também que o que queria fazer era psicologia do trabalho e não organizacional.
Vieram então mais estudos e as seleções de mestrado. E finalmente minha aprovação e a oportunidade de realizar um trabalho que desejo e que só por isso já é prazeroso!

Como começou o desejo de pesquisar o meu tema no mestrado

Meu orientador me pediu um exercício na semana passada, mas ainda não tinha conseguido realizá-lo. Então essa é a minha primeira tentativa. Ele me solicitou que pensasse no que nos levou até o tema que queremos investigar, de onde vem o nosso desejo de investigá-lo, mas não fazendo nenhuma interpretação psicanalitica, se é que isso é possível.
Bem, meu desejo é investigar o mundo do trabalho, especificamente, o trabalho dos psicólogos dentro das empresas de Fortaleza. Essa questão com o mundo do trabalho na minha vida já vem de muito tempo. Acho que desde que eu era criança e o mundo do trabalho me foi apresentado pelo meu pai. Na realidade pela ausência do meu pai. Sempre que sentia sua falta em casa, minha mãe me respondia que ele estava trabalhando para nos dar uma vida melhor. Eu ainda não entendia bem o que era uma vida melhor, mas entendia que o trabalho tirava sempre o meu pai do meu convívio.
Fui crescendo e desenvolvendo minhas representações sobre o mundo do trabalho. Sempre via como uma categoria que não trazia coisas boas, as quais eu sentia como boas, para mim e para minha família. Meu pai estava sempre trabalhando, então mesmo que ganhássemos dinheiro, nunca tínhamos tempo para aproveitá-lo em família. E como é um dos princípios do capitalismo querer sempre mais, meu pai sempre queria mais. Então, eram feriados, finais de semana, e sempre, sempre horas-extras.
Meu pai não abdicou só da convivência familiar, mas de um dos grandes sonhos dele, que era fazer um curso superior e tornar-se advogado. Então, eu sempre vi o trabalho com um pé atrás, como algo que podia me tirar muitas coisas boas.
Quando iniciei minha vida laboral, tinha em mente sempre que não ia me deixar consumir pelo trabalho. E que o que eu fizesse teria que me trazer felicidade, mas que também tinha que me permitir ser feliz longe dali. No meu caminha de estagiária, sempre que me deparei com situações ou empresas em que a precarização era forte, em que era tratada apenas como um pedaço de uma máquina, não suportei. Pedi para sair, ou eles mesmos depois que percebiam que eu não me adaptaria a cultura de trabalho "escravo dos tempos modernos" me demitiam. Enquanto eu era estagiária e tinha um pai, que estava se sacrificando para me dar uma vida melhor com mais oportunidades, era fácil deixar esse tipo de trabalho.
Nem sempre era tranquilo. Pois, em casa, meus pais questionavam muito o meu modo questionador de trabalhar. Sempre diziam que eu era muito sensível, que no mundo do trabalho as coisas funcionavam assim mesmo, que o patrão mandava e nós obedeciamos. Algumas vezes quis deixar de trabalhar para me dedicar só a estudar, mas só uma vez isso foi possível e porque meu atual marido, na época namorado, ajudou a me sustentar por um ano.
Mas isso não era por maldade dos meus pais. Era por falta de conhecimento e necessidade. Meu pai, que tinha dedicado uma vida inteira ao trabalho, e na época encontrava-se desempregado. Refutado pelo mercado de trabalho, que o achava velho e ultrapassado com seus 48 anos na época. Ele não consegui se reinserir. As exigências eram muitas. Ele quase que desconhecia por completo a informática, nunca pode fazer uma faculdade porque nunca teve tempo, o trabalho sempre o consumia demais. E com isso ele amargou alguns anos de desemprego. Com muita dificuldade ele voltou para o mercado, mas em condições mais que degradantes. Ele que tinha trabalhado em grandes organizações, foi trabalhar num empresa na época fundo de quintal, sem carteira assinada. Por um salário que não chegava a metade do salário que ele ganhava quando ficou desempregado.
Desde então, ele vem se deparando com condições cada vez mais degradantes. Empregos sem CTPS, ou assinada apenas com um salário mínimo. Alimentações de péssima qualidade, que lhe renderam recentemente uma pancreatitie e pedras na vesícula. Ônibus lotados, péssimas instalações fisícas que lhe renderam problemas na coluna que exigiram várias sessões de fisioterapia.
Por outro lado, eu me inseri nesse mundo de precarização do trabalho: salários baixos, após a formatura, fazendo trabalhos que requeriam duas ou mais pessoas, sozinha, porque amava de certa forma o que fazia, então fazia assim mesmo. Mas então, vieram a falta de reconhecimento, a manipulação ou apropriação indevida do meu saber por aqueles que era os donos do capital e exigiam que eu trabalhasse de determinada forma, mesmo sendo contra meus valores e princípios éticos. E ao mesmo tempo em que queria questionar, repudiar tudo isso e sair desses locais sem dizer adeus, tinha também a necessidade de me sustentar, de não ser um peso a mais para minha família, que já tinha problemas demais devido a queda da nossa condição econômica. Tinha o desejo de casar e construir minha própria familia. Então, fui permanecendo nesses trabalhos, mesmo não suportando. Meu corpo não aguentou e por vezes reagiu, desenvolvendo problemas na coluna, LER, tumores, gastrite entre outros problemas...
Passava noites pensando em como mudar essa situação. Em como sair desse ciclo vicioso, em que você trabalha numa situação precária, porque é o único jeito de se trabalhar, e não consegue mudar isso, estudando ou enfrentando os "patrões" por que isso implica a possibilidade de você ficar sem aquela renda, mesmo que seja insuficiente. E pensei muitas noites, amanhecendo sem perceber que nem dormi só pensando em como sair dessa situação. Então, nesse caminho desenvolvi algumas estratégias que você verá nas próximas postagens!

Cisne Negro e o Mestrado

Ontem assisti a Cisne Negro. E o que ficou para mim depois de todo o filme, foi o que a pressão que impomos a nós mesmos, quando se trata de realizar um objetivo ou um sonho, principalmente no âmbito profissional, pode nos fazer.
Aquela bailarina esperou a vida toda para realizar aquele sonho, ser a artista principal de um espetáculo, tornar-se perfeita naquilo que fazia. Quando isso acontece, ela não consegue suportar essa realidade e surta.
Isso parece mais comum do que pensamos. Lembro do caso Schereber de Freud, que quando ele chega a magistratura surta. Ele chegou a ocupar o lugar máximo que poderia e não conseguiu suportar. Lembro de algum tempo atrás ouvir comentários de jovens mestrandos que surtaram no processo do mestrado. Pensava que era brincadeira, ou que o sujeito era um "fraco"....
Estou nesse papel agora, fazendo o mestrado, perto de alcançar um dos meus maiores desejos...Entendo porque algumas pessoas surtam. As minhas primeiras aulas estão sendo de puro desconforto. Os professores estão nos tirando daquele lugar comum, nos fazendo questionar tudo que achávamos que acreditávamos... Saio de lá tendo um conflito grande entre aquilo que eu costumava pensar e o que começo a duvidar agora. Muitas vezes saio sem chão, duvidando de todos os meus conhecimentos, não há certezas nas ciências sociais ou na psicologia... Assim como Nina, que não sabe mais o que é real e o que não é no processo dela de tornar-se a grande bailarina na cia. Mas segundo meu orientador é isso mesmo que eles querem provocar nos alunos. E segundo a minha professora de metodologia, quando começamos a relacionar o nosso tema da dissertação com as mínimas ocorrências do nosso dia a dia, estamos em pleno processo de produção rumo a alcançar nosso objetivo.
Mas, não se preocupem aqueles que ficaram assustados com a minha comparação com o filme Cisne Negro. A comparação é apenas para fazer-me melhor compreender o momento que vivo, que também é de grande pressão, pressão que eu mesmo exerço sobre mim. Entender e compreender melhor aqueles que não suportam essa pressão. Mas, de qualquer forma o mestrado é apenas um dos meus grandes desejos....